O ano de 2020 foi repleto de desafios que colocou a humanidade de frente com as fragilidades humana e forçou a repensar na forma de conduzir a vida e o relacionamento com a natureza. Foi um ano de redescobrir o sentido da gratuidade, de ver o outro não por sua capacidade de produzir algo valoroso e de importância social, mas de enxergar as criaturas como um dom e não como produto ou mercadoria.
A pandemia do novo corona vírus (COVID-19), forçou-nos a buscar a lógica cristã da fraternidade. Na lógica fraterna não existe interesse particular, mas interesse coletivo, ou seja, o bem-estar de todos. Ao cumprir o isolamento social não estamos apenas cuidando da nossa saúde, mas de milhares, porque afinal tudo estar interligado em uma rede de dependência mútua. Recordo aqui a Encíclica do papa Francisco - "Não posso reduzir minha vida à relação com um pequeno grupo, nem mesmo minha própria família, porque é impossível compreender-me sem uma teia mais ampla de relações (...)" Fratelli Tutti (89). O papa Francisco ratifica o apelo da Boa Nova publicada pelas comunidades evangélicas (em referência aos evangelistas).
Quando falamos de gratuidade em uma sociedade corrompida pela ação humana e suas consequências catastróficas, parece que, é algo de tolo. A lógica humana competitiva e capitalista nos cegou verdadeiramente. Recordemos aqui a Paixão, Morte e Ressureição de Jesus Cristo - não podemos enxergar a Cruz como resignação messiânica, mas é resultado da luta veemente contra a lógica humana excludente, individualista, exploradora e injusta - Cristo se submeteu a justiça humana para estabelecer a lógica messiânica, a lógica da gratuidade da fraternidade: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 13,34-35). Parafraseando o teólogo González o sacrifício da Cruz foi uma consequência da vida de Jesus: "Cristo entregou sua vida por nós não para satisfazer uma justiça que é mera projeção da vingança humana, mas porque a maldade humana, isso que chamamos de pecado, não é simplesmente uma ofensa ao Amo, e sim algo muito mais sério: uma ofensa ao amor."
Precisamos redescobrir uma forma saudável para nos relacionarmos com a criação de Deus. O papa Francisco fala da Fraternidade Universal: "O amor fraterno só pode ser gratuito, nunca pode ser uma paga a outrem pelo que realizou, nem um adiantamento pelo que esperamos. Por isso, é possível amar os inimigos. Esta mesma gratuidade leva-nos a amar e aceitar o vento, o sol ou as nuvens, embora não se submetam ao nosso controle." Laudato Si' (228).
Que iluminados pela vivência fraterna e gratuita de Deus Filho, que agora, em 2021 possamos viver na gratuidade para alcançarmos a tão falada Fraternidade Universal.
Luiz Carlos é comunicólogo e estudante de filosofia pela UNICAP.
Sabias palavras amigo
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