O sofrimento está presente na humanidade desde o princípio seja ele estrutural que considera nossa humanidade ou existencial o homem racional e a busca pela felicidade. No aspecto religioso, vemos que ele é difundido como fruto do pecado original, uma espécie de punição pela desobediência humana. Mas nossa ideia não é adentramos na discussão do mérito sobre a originalidade do sofrimento. Pelo contrário, queremos mostrar que existe uma finalidade e que não é como forma de punição ou sadomasoquismo.
A sociedade hoje vive um tempo nebuloso e
desafiador com a imposição do isolamento social, em decorrência do COVID-19,
que aumenta o sofrimento humano gerando o agravamento social, político,
econômico e cultural. Os problemas que eram desafios, hoje se tornam um abismo
de medo e sofrimento. Podemos exemplificar: depressão, ansiedade, crise de
pânico e outras patologias. Este aspecto aumenta mais ainda nossa busca
instantânea pela felicidade. Só que concentramos nossas forças em não sofrer,
queremos passar por ele como se fosse um simples ato de apagar uma mensagem
indesejada, usando a ferramenta deletar para todos.
Na visão cristã, trazendo para o carisma
da sabedoria do Evangelho e da Cruz, propagado pelos missionários Passionistas,
o sofrimento é uma consequência do caminho, mesmo que indesejado, sua função é
pedagógica e libertadora. O padre Mauro Odoríssio, missionário Passionista,
enfatiza que o sofrimento é pedagógico, é humanizador, coloca de frente com o
nosso limite que é característica humana. Odoríssio dá continuidade e afirma
que o sofrimento na ótica do cristianismo não pode ser visto como em
decorrência do pecado, pelo contrário é
fonte de libertação. A prova que é libertação (Fil 2, 6-8), está na Cruz, é o
processo de esvaziamento de si pelo projeto redentor: “[...] um Deus que se faz
Filho, é um homem sem deixar de ser Senhor, mas que é servo ao mesmo tempo. ” O
sofrimento de Cristo até a morte de Cruz (Jo 12-24), foi um mal em decorrência
de um bem que está na ordem superior, ou seja, o amor de Deus por nós, a
manifestação de um reinado sem o poder humano, mas unicamente pela
fraternidade.
Um grande homem e profeta de nosso tempo,
Dom Helder Câmara, viveu na pele o sofrimento, decorrente de perseguição,
dentro da própria igreja o qual foi servo e pelo regime militar brasileiro o
qual foi opositor. Porém, nunca perdeu a esperança, nunca deixou a profecia
cair e viveu verdadeiramente pela esperança de um mundo mais humano e fraterno.
Recordo uma frase de sua autoria que diz: “Esperança sem risco não é esperança.
Esperança é crer na aventura do amor, é pular no escuro confiando em
Deus.”.
A reflexão do exegeta, Pe. Mauro
Odorríssio cp, desperta em nós a necessidade de olhar profeticamente para o
nosso sofrimento, acreditar que ele é uma consequência, não podemos ver ele
como fatalidade nem finalidade, mas como pedagogia que nos leva a uma
libertação. Precisamos ser profetas da esperança, precisamos deixar de
acreditar que tudo se resolve no simples click de um botão ou no passe de
mágica. A vida é uma luta constante. Na concepção o espermatozoide luta entre
milhões e apenas um é vencedor. Na gestação o feto luta pelo desenvolvimento e
no nascimento nós lutamos para ser expulso do ventre da mãe e depois lutamos
para ser acolhido em um novo espaço. O sofrimento sempre existirá! Mas como
corretamente vivê-lo? Acredito que esta é a pergunta.
Luiz
Carlos Rodrigues da Silva
Comunicólogo e estudante de Filosofia
luizcarlospb@outlook.com.br
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